Em uma coletiva de imprensa curta e marcada pela ironia do americano Chael Sonnen, o presidente do UFC, Dana White, confirmou nesta terça-feira, que a segunda luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen acontecerá do UFC 148, dia 7 de julho, em Las Vegas. A mudança da sede do UFC 147 também aconteceu, mas o evento ainda não tem um destino definido. Com a impossibilidade de realizar o torneio num estádio de futebol que pudesse quebrar o recorde de público da franquia, a luta principal da noite, passa a ser o duelo entre os treinadores do "The Ultimate Fighter Brasil - Em busca de campeões", Vitor Belfort e Wanderlei Silva, ou uma eventual participação de José Aldo no torneio, que mantém a data de 23 de junho.
A coletiva começou com Dana White explicando que tinha uma boa e uma má notícias.
- A boa é que a luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen acontecerá, e a má é que não será no Brasil. Ainda não temos um local para o restante do evento, que terá as finais do TUF Brasil e a luta dos treinadores Vitor Belfort e Wanderlei Silva, mas certamente acontecerá no Brasil. Ainda estamos trabalhando para que José Aldo também esteja no torneio. Anderson ficou muito chateado por não lutar aqui. Conversamos muito e eu o convenci a lutar em Las Vegas, onde haverá hotel para todos que estiverem lá - alfinetou o dirigente.
Perguntado sobre o que achou da mudança do local da luta, o campeão brasileiro não escondeu a decepção.
- Eu sou brasileiro, grato a tudo o que os meus fãs brasileiros me proporcionaram até agora. Não estou feliz por a luta não ser realizada no Brasil, mas não tenho fãs somente no Brasil. Vou fazer meu trabalho onde quer que seja. Houve uma aliança que o UFC fez com uma companhia que não foi suficientemente profissional para entender o tamanho do evento. Para mim é indiferente. Sou lutador. Meu primeiro título mundial foi no Japão, contra o Sakurai e havia dois mil japoness torcendo contra. Mas quando se está lá em cima, é tudo diferente. Eu sei exatamente como é. Quem luta no UFC é bom, tem qualidade, porque é o maior evento de MMA do planeta. Mas não acho nada sobre o Sonnen. Lá em casa tem um pé de acho, mas nunca dá nada.
Chael Sonnen também não fez questão de ser simpático, e destilou toda sua ironia sobre a fama de Anderson Silva como o melhor lutador do mundo.
- Não tenho nada contra os brasileiros, e sim contra alguém sentado a poucos metros de mim. As suas mulheres são ótimas comigo. Fiquem à vontade para me ligarem e me fazerem uma visita. Minha impressão sobre o Brasil é muito parecida com as que eu tenho dos EUA. Quando eu era criança, me lembro de conversar com meus amigos. Nós falávamos sobre as últimas novidades da tecnologia, medicina, jogos e da ingenuidade americana. Eu olhava para fora e via Anderson e as crianças brasileiras brincando na lama. Anderson Silva fica tão perto das árvores que não consegue enxergar a floresta. Acho embaraçoso que ele sente ali, na frente da TV, com um cinturão falso fingindo que é campeão. Ele fala do seu legado. Conquistou o cinturão contra o "grande" Chris Leben, defendeu seu cinturão contra o "fenomenal" Patrick Coté e deu show diante do "fortíssimo" Thales Leites. Que legado! Ele diz que eu desrespeitei sua família. Sim, eu fiz isso. E o que você vai fazer a respeito? Use a escola Ed Soares de desculpas para dizer o que terá dado errado quando eu o surrar para todo o mundo assistir. É isso o que acontecerá no dia 7 de julho.
Questionado sobre o fato de as suas lutas sempre serem apontadas como as melhores lutas do mundo muito mais por sua habilidade do que as dos seus oponentes, Anderson desabafou.
- Até que enfim uma pergunta inteligente! Quando comecei a treinar artes marciais, eu aprendi o que era respeito. Sonnen não sabe o que é arte marcial. Ele é wrestler, não sabe o que é respeito às pessoas. Tem gente que diz que ele está promovendo a luta, mas ele desrespeitou meu país, minha família e o público. Alguns não tem conhecimento de causa, e acham isso o máximo. Ele fez de tudo nos cinco rounds, mas não fez o principal, que é vencer - disse Anderson Silva, enquanto Sonnen fingia roncar de tédio.
No fim da coletiva, os dois lutadores posaram para os fotógrafos, e Anderson Silva fez questão de não olhar nos olhos de Sonnen. Depois, quando posou com o cinturão, o americano fez menção de pegá-lo, como se fosse seu, e Anderson não esboçou nenhuma reação.
- Não sei se Chael é o vilão ou é doido. Ele fala o que vem à cabeça, mas ele banca tudo o que ele diz. Ele foi o único a chegar perto de vencer Anderson Silva desde que ele chegou ao UFC. Isso é um fato. Anderson é o melhor lutador peso por peso do mundo, e talvez da história. Me perguntam como posso dizer que Jon Jones não é o melhor. Não digo porque ele não é. O melhor é Anderson Silva.
Na última pergunta feita a Chael Sonnen, o americano aproveitou para debochar dos irmãos Nogueira e fazer propaganda do seu livro. Mostrando um disfarce com óculos, bigode e nariz postiços, o desafiante mais uma vez destilou toda sua ironia.
- Eu comprei isso só pra entrar nesse país. Quando coloquei no meu rosto, todo mundo achou que eu era o (Minotauro) Nogueira. Isso aconteceu de verdade. Eu achei que era um grande nariz, óculos, que me fariam parecer com Frankestein. Mas para aqueles que querem me conhecer melhor e saber mais sobre mim, meu livro já está à venda. Se chama "A voz da razão". Obrigado - finalizou.
Dana White também explicou a razão de ter escolhido Las Vegas como sede da luta, que ele considera o maior evento esportivo do ano.
- Las Vegas é um lugar no qual as pessoas apostam, comem, saem, se divertem. Se não fosse no Brasil, seria em Vegas. A data da luta é seguinte ao feriado de 4 de julho, o maior dos Estados Unidos. E vejam bem: Manny Pacquiao é imenso nas Filipinas, mas nunca lutou lá. Ele luta em Las Vegas. Há tudo que se pode fazer por lá. Será um feriado gigante, e se vocês pararem para pensar, faz todo o sentido realizar essa luta lá.
Entenda o caso
A intenção do UFC era fazer a revanche entre Anderson Silva e Chael Sonnen num grande estádio de futebol no Brasil, para quebrar o recorde de público da companhia, 55 mil pessoas, marcado em 30 de abril de 2011, no UFC 129, em Toronto, Canadá. O plano inicial era realizar o evento em São Paulo, mas problemas burocráticos impediram que as duas opções do Ultimate, Morumbi e Pacaembu, fossem utilizadas. Em março, o Engenhão foi anunciado como sede do UFC 147, marcado para 23 de junho.
White alegou, entretanto, que a falta de estrutura do Rio de Janeiro em suportar dois grandes eventos ao mesmo tempo foi o principal motivo para a mudança. Entre os dias 20 e 22 de junho, a cidade sediará a Rio +20, conferência de desenvolvimento da ONU, que vai receber cerca de 100 chefes de estados e suas comitivas. O UFC teve dificuldades de encontrar hotéis para abrigar lutadores, funcionários e a imprensa internacional. Com pouco tempo para buscar outro estádio de futebol em outra cidade para realizar o card, a solução encontrada foi transferir o UFC 147 para o Mineirinho. Na semana passada, um diretor da empresa parceira do Ultimate no Brasil fez uma pré-reserva no Mineirinho, em Belo Horizonte, dando um forte indício de que a cidade poderia vir a sediar o evento.
Todavia, sem a possibilidade de quebra de recorde de público no Brasil, a organização optou por levar a revanche entre Anderson Silva e Chael Sonnen para os EUA, como luta principal do UFC 148, card especial de comemoração do feriado do Dia da Independência Americana, em Las Vegas. O duelo entre Vitor Belfort e Wanderlei Silva - outra desforra, de uma luta realizada na primeira visita do Ultimate ao país, em 1998, vencida por Belfort - passa a ser forte candidato ao evento principal do UFC 147, que terá ainda as decisões dos torneios de pesos-penas e pesos-médios do TUF Brasil, e a possibilidade de contar com o campeão dos pesos-penas, José Aldo, ainda sem adversário definido.