Rafaela Silva é desclassificada por catada de perna e desaba no choro (Postado por Lucas Pinheiro)
Rafaela precisou de uma hora para se recuperar e, enfim, conseguir juntar poucas palavras para explicar o que tinha se passado em menos de cinco minutos. Antes mesmo de rever a luta, sabia que havia cometido um erro.
- Fiquei muito triste porque vinha treinando e tinha condições de pegar até uma medalha. É minha primeira edição de Olimpíadas e serve como experiência - disse.
Rosicléia Campos, a treinadora, achou que teria de entrar na área de competição para carregá-la.
- Achei que ela fosse desmaiar - conta.
O dia estava "bom demais", segundo a treinadora. Ao chegar ao ginásio, clamou: "Senhor, me dá um sinal". Logo nas primeiras lutas, a portuguesa Telma Monteiro, favorita, foi eliminada. Rafaela nunca lutou contra ela. Era um alívio.
- Era o melhor dos mundos - pensava.
Mas agora a brasileira teria outra favorita pela frente. Karakas chamou a atenção desde o início do dia por sua beleza. Ela também logo mostrou que tinha judô de alto nível: recuperou uma desvantagem de um yuko contra a espanhola Concepcion Bellorin nos segundos finais, com um ippon no uchi-mata, especialidade da brasileira. As duas já haviam se enfrentado duas vezes: como júnior, melhor para a húngara; como sênior, no ano passado, melhor para Rafaela.
A carioca começou muito focada e logo arriscou um ippon seoi nage, bem defendido por Karakas. A briga por pegada era intensa e, com 3m40s, a húngara recebeu o primeiro shido (advertência). A europeia passou a arriscar seu uchi-mata, sem sucesso. Com três minutos para o final, Rafaela conseguiu um wazari ao desequilibrar a adversária e catar suas pernas para derrubá-la. Entretanto, após a revisão em vídeo, a pontuação não só foi revogada, como a brasileira foi desclassificada por golpe ilegal.
Hoje ilegal, golpe deu a Canto o bronze em Atenas-2004
A catada de perna - Kata Otoshi - foi banida do judô como ataque direto em 2010, quando a Federação Internacional de Judô (FIJ) mudou as regras do esporte com a intenção de voltar ao estilo mais tradicional do esporte, que estava se assemelhando demais à luta livre e greco-romana. Desde então, o judoca só pode pegar as pernas do adversário com as mãos para derrubá-lo em tentativas de contragolpe.
Foi com ele que Flávio Canto, fundador do Reação, conquistou o bronze nos Jogos de Atenas-2004. Era uma referência para Rafaela.
- Virou febre no Brasil depois de Atenas. Nos treinos, Rafaela sempre tira a mão - explica Rosicléia.
Sarah, na arquibancada: silêncio após rever imagem
Sarah Menezes, ouro na ligeiro, assista à luta da arquibancada. Chegou a acompanhar a vaia inicial dos brasileiros. Minutos depois, o estrategista da equipe, Leonardo Mataruna, esclarecia, triste. Rafaela tinha, sim, errado.
Coordenador da seleção, Ney Wilson ficou estático por alguns minutos. Bruno Mendonça iria competir em instantes. Não hesitou. Levantou-se da cadeira e foi em direção à área de atletas. A esta altura, a judoca passava por um corredor, quase tombando. Rosicléia a segurava. Rafaela chorava como criança.
- Não consegui falar uma letra para ela. O que se fala numa hora dessas?
Geraldo Bernardes, treinador que descobriu a judoca na comunidade da Cidade de Deus, foi atrás. No intervalo da primeira para a segunda luta, ele pediu a uma sparring para ir até a área restrita e dar instruções: segurar na gola.
- Cuidado com essa posição. Não pode deixá-la crescer - gritava Geraldo, durante a luta.
É a sexta edição de Olimpíadas do treinador, que montou com Flávio Canto o Projeto Reação. Rafaela é a joia do projeto. Era uma promessa, virou esperança real de medalha em Londres. Nesta segunda, apenas dor e tristeza.
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